Se você vai para Courchevel, nos Alpes Franceses, na maior estação de esqui do mundo e um dos melhores lugares no Hemisfério Norte para praticar o esporte, Les Trois Vallées, talvez fique um pouco desconcertado com a quantidade de crianças deslizando pelas pistas verdes. Lá, a idade mínima para esquiar é um ano e meio, e existe um espaço reservado para os pequenos: a Village des Enfants, onde os pais deixam as crianças aos cuidados dos instrutores da escola Courchevel 1850 – que designa a altitude do centrinho mais charmoso e conhecido da estação. “Com as crianças, é mais fácil. Se elas começam a ficar com medo, você simplesmente diz, vai, e dá até um empurrãozinho para ajudar”, contou Julien Ripoll, instrutor da escola.

Mas a verdade é que, experiente ou não, Courchevel tem espaço para todo mundo. O mês favorito? A resposta é quase sempre a mesma. “Fim de março, começo de abril. Porque tem sol!”.

O hotel Barrière Les Neiges – da mesma cadeia Barrière Majestic, de Cannes, e do Fouquet Barrière, de Paris – oferece uma experiência completa. O presidente do Groupe Barrière, Dominique Desseigné, costumava visitar a cidade nas férias de inverno e um dia decidiu construir sobre as ruínas do antigo Les Neiges o seu novo hotel. Agora, em sua terceira temporada, o ponto não podia ser melhor: ski-in, ski-out, você sai de esqui (ou snowboard) no pé e vai até o teleférico para ter acesso às pistas. O dia acaba na entrada da multimarcas Bernard Orcel. Você deixa o esqui e as hastes do lado de fora, na neve, e é recebido com tipos diferentes de pães, bolos, sucos (inclusive detox) ou um licor de génépi (licor de ervas típico dos Alpes), para tomar de um gole só.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Com decoração minimalista de referências montanhosas assinada pela artista Nathalie Ryan, o hotel é também fiel à história cinematográfica do grupo: o Bar Fouquet, por exemplo, traz dezenas de opções de livros de cinema, passando por roteiros de filmes que marcaram os últimos 50 anos da sétima arte, aos clássicos da fotografia de Helmut Newton. Saí de lá com o roteiro de Le Dernier Métro, com Catherine Deneuve e Gérard Dépardieu – a rigor, eles não vendem o catálogo exposto, mas não custa perguntar.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

A gastronomia é um dos destaques. Além do bar, o hotel oferece dois restaurantes com propostas bem diferentes. O tradicional Fouquet de Pierre Gagnaire, onipresente em todos os hotéis da cadeia, é a típica brasserie francesa. Depois do esqui, é possível se sentar em uma mesa do lado de fora e degustar um chardonnay bem gelado – com aquecedor ligado, claro. Os cafés-da-manhã são regados a champanhe, frutas silvestres, literalmente todos os tipos de queijos e os melhores ovos beneditinos. Já o BFire do estrelado chef argentino Mauro Colagrecco – seu restaurante Mirazur, em Menton, tem três estrelas Michelin– é mais moderno e cosy. A cozinha argentina desconstruída à la française talvez seja a pedida ideal quando está menos dois graus: tudo é feito maison, e o sommelier Lothaire Bartolini te faz se sentir em casa, inclusive servindo vinhos da carta especial do restaurante no bar.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Com o começo da primavera no dia 21, e uma temporada que vai até meados de abril, talvez seja o momento perfeito para conhecer e visitar. No fim da tarde, sobre a pista Bellecôte, tudo o que vemos é a imensidão branca, com as montanhas cobertas de neve fresca.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Um pouco de história

Courchevel tem pouco mais de setenta anos. Tudo começou no pós-guerra, quando a ideia era criar uma economia em torno da montanha. Foi um desafio: até então, acreditava-se que seria impossível, por causa da altitude elevada.

O projeto do arquiteto Laurent Chapis, aprovado em 1946, tinha 6 mil leitos, dois telesquis, um teleférico e três trampolins. De lá para cá, muita coisa mudou: são aproximadamente 100 pistas, e muitos hotéis cinco estrelas ou villas para aluguel em temporada. A gastronomia é um dos fortes da cidade – Le Chabichou recebeu sua primeira estrela Michelin ainda na década de 70 e hoje, Le 1947, do chef Yannick Alléno, é o único três estrelas. A cidade também guarda outros favoritos, como o italiano La Cendrée. Muito frequentado por turistas, tem talvez o melhor tiramisú da cidade.

Courchevel se tornou referência para os campeonatos oficiais de esportes de gelo: no fim da década de 70, recebeu pela primeira vez a Copa do Mundo masculina de esqui alpino e, na década de 90, as provas de saltos de esqui.

O município é na verdade recente: a criação oficial é de 2017, com a fusão de Saint-Bon e La Perrière. O nome vem do dialeto de Saint-Bon, écortzevé era usado pelos pastores da região para descrever como uma erva local machucava a língua dos bezerros.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

O que fazer

Courchevel e, especialmente, o Barrière Les Neiges, oferecem uma série de passeios para quem quer mais do que esqui mas, entre janeiro e abril, esqui e snowboard são escolhas óbvias.

O hotel providencia o seu passe junto ao departamento de turismo e a loja Bernard Orcel – multimarcas de esqui de luxo de Courchevel – é onde o dia começa e termina. Ali, você prova e aluga botas, capacete, hastes, esqui ou snowboard e pode tomar um suco antes de sair. Era minha estreia, então consegui emprestados conjuntos Bogner e La Descente. Marcas de luxo da Bernard Orcel, seus casacos têm preços entre 800 e 2 mil euros, as calças, em torno de 400 euros e as luvas – lindos modelos branco e preto – a partir de 200 euros. São tão bonitos que nem precisa tirar depois do esqui: pode ficar o dia todo com eles.

Nos intervalos entre uma pista e outra, são muitos os bares e restaurantes, como Le Tremplin e Polar Café – onde você pode levar o próprio vinho. Nas pistas mais avançadas, La Casserole, Le Cap Horn e Nammos são ótimas opções.

Voltando ao Les Neiges, além do spa – que merece um capítulo à parte – é possível organizar um screening exclusivo, de filme ou série do catálogo francês de Netflix e Apple TV. Escolhemos Piaf, que rendeu a Marion Cotillard o Oscar de Melhor Atriz em 2008. Além de toda a sala a nossa disposição, havia seleção de nuts e chocolates e a carta completa do Bar Fouquet.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

O spa

São mil metros quadrados de spa. Massagem, piscinas com jatos de água massageando diferentes partes do corpo, saunas, e até uma jacuzzi do lado de fora, para curtir água quente e neve ao mesmo tempo.

Didier, instrutor das aulas de ginástica oferecidas do hotel, criou um percurso para adultos e crianças: dois minutos na sauna molhada e depois o máximo de tempo na piscina congelante. Ele cronometrava exatamente quanto tempo cada um ficava e anunciava o novo recorde. Fiquei 16 segundos submersa sem respirar, segundo ele, o melhor tempo nessas condições.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Uma massagem pós-esqui é recomendada, especialmente no primeiro dia. Mas são vários os tratamentos disponíveis e podem ser alternados ao longo da estada. O hotel recomenda um mínimo de quatro dias, e faz sentido: no segundo, senti uma dor atroz nos joelhos, e no terceiro já queria voltar ao esqui.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Os quartos

As suítes são verdadeiros chalés e dá para esquecer que se está em um hotel. A nossa tinha vista para o terraço do Fouquet, a pista Verdons, e chalezinho onde podem ser organizados noites de fondue ou raclette. As luzes do hotel mudam no entardecer. No meio da noite, parece mesmo que estamos na terra do inverno.

Todos os clientes do hotel são recebidos com uma seleção de frutas: mirtilos, framboesas, morangos, um bolo e alguns sucos. Tudo o que está no frigobar é cortesia, exceto as bebidas alcóolicas. À noite, para relaxar do esqui, uma banheira de água quente à luz de velas.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Brasileiros, russos e turcos estão entre as das nacionalidades mais frequentes do Barrière, embora representem menos de 10% dos turistas recebidos por Courchevel todo ano.

O O hotel Barrière Les Neiges, Courchevel (Foto: Marc Berenguer/Divulgação)

Charles Richez, diretor do Les Neiges, disse que os brasileiros sabem escolher os melhores serviços e “se faire plaisir” ( se dar prazer em tradução livre). “Recebemos muitos brasileiros que buscam uma oferta de alto luxo, low profile, com um toque francês”, comenta.

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